quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um banquinho, um violão, um piano, uma flauta... um talento sem fim


Esse é Egberto Gismonti. Acabo de me maravilhar com uma descontraída e despretensiosa aula de música. Gismonti foi o convidado desta noite no programa Sr.Brasil, de Rolando Boldrin. Papo ótimo, causos curiosos sobre João do Pife, da Banda Dois Irmãos de Caruaru e flautas norueguesas, pitadas técnicas e virtuosas entre o ser pianista e tocador de violão e o ser violonista e tocador de piano. Percussão, dedilhados, harmonia e muita simpatia.
Cresci ouvindo Gismonti e continuei ouvindo durante grande parte de minha vida. Delicioso sabor de descanso e inspiração é ouvir Lôro, Frevo, Palhaço, Cego Aderaldo, Maracatu, Dança dos escravos, Nó caipira e tantas outras.
Aos 13 anos fui com minha mãe assistir ao show Dança das Cabeças, na turnê do disco recém lançado. Guardo em minha memória cada detalhe do palco, dos músicos, da iluminacão e em dado momento, na minha percepção infanto-juvenil, entre o sono e a vigília, fiz uma verdadeira viagem tendo naquela música quase uma libertação. Lembro que criei histórias e desenhos... fui invadida por uma onda de criatividade. Não sei o que aconteceu no dia seguinte, se escrevi, se pintei, colori ou bordei - sim, sempre fui chegada em atividades manuais para extravasar a alma.
Hoje, ao ligar a tv e ver Egberto Gismonte ali, chamei meu filho João, jovem músico, e juntos curtimos a entrevista e música da melhor qualidade.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Espelho, espelho meu...

Recebi o video abaixo no dia da consciência negra (acho essa nomenclatura um tanto capenga mas vá lá, difícil reduzir uma idéia de igualdade a um dia e a duas palavras) e ele me fez pensar em duas coisas: como crianças tão pequenas já tem introjetadas uma imagem tão deturpada de si mesmas, e quem é a pessoa por trás da camera?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Negra cor

As mulatas, de Di Cavalcanti

Seu Zé
Carlinhos Brown
O Brasil não é só
Verde, Anil e Amarelo
O Brasil também é
Cor de Rosa e Carvão

Negro Gato
Getúlio Cortes • por Luis Melodia
Eu sou um Negro Gato
de arrepiar
Essa minha história
é mesmo de amargar
Só mesmo de um telhado
aos outros desacato
Eu sou um Negro Gato

Meu Ébano
Neneo • Paulinho Rezende • por Alcione

É!
Você um negão
De tirar o chapéu
Não posso dar mole
Senão você créu!
Me ganha na manha e baubau
Leva meu coração...
É!
Você é um ébano
Lábios de mel
Um príncipe negro
Feito a pincel
É só melanina
Cheirando à paixão...

Nêga
Vevé Calazans • por Emílio Santiago
Nêga
Segura no pé dessa nêga
E o asfalto precisa do pé dessa nêga
Pra sambar na avenida do seu coração
Nêga
Segura no pé dessa nêga
E o asfalto precisa do pé dessa nêga
Pra sambar na avenida do seu coração

Sarará Miolo
Gilberto Gil
sara, sara, sara, sarará
sara, sara, sara, sarará
sarará miolo
sara, sara, sara cura
dessa doença de branco
sara, sara, sara cura
dessa doença de branco
de querer cabelo liso
já tendo cabelo louro
cabelo duro é preciso
que é para ser você, crioulo

Olhos Coloridos
Macau • por Sandra de Sá
Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir...
Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinado
Também querem enrolar...
Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso...
A verdade é que você
(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará, sarará
Sarará, sarará
Sarará crioulo...

Preta Pretinha
Galvão • Moraes Moreira • por Novos Baianos
Preta, Preta, Pretinha!
Preta, Preta, Pretinha!
Preta, Preta, pretinha!
Preta, Preta, Pretinha!
Enquanto eu corria
Assim eu ía
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca...

Haiti
Gilberto Gil • Caetano Veloso
Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados

domingo, 15 de novembro de 2009

As flores da vila

De manhãzinha e anoitinha os aromas e as cores se espalham...
camélias, azaléias, damas-da-noite, jasmins, primaveras e folhas dos eucaliptos... assim é a vila madalena, sutilmente perfumada.

Vertiginosa Vertigem: OSGEMEOS

Não há palavras para expressar a incrível experiência de entrar no mundo fantástico, caprichado, criativo, lúdico e onírico desses grandes artistas. Uma deliciosa experiência sensorial.
Quem estiver em São Paulo não deixe de ir a essa exposição que está na FAAP até 10 de dezembro.

Bonita TV Fernandinhos

Duas chamadas na página de abertura da Uol desse domingo, 15 de novembro de 2009 chamam a atenção, quando se completa 20 anos da primeira eleição direta para presidente no Brasil.
Fernando Collor de Mello admitindo que sua relação com a TV Globo ajudou sua eleição em 89: Relações com a Globo eram 'excelentes'; meios de comunicação temiam governo 'comunista', diz Collor; e Fernando Henrique Cardoso finalmente assumindo a paternidade de seu filho de 18 anos com uma jornalista da TV Globo – que a emissora tratou de retirar de cena para não macular a imagem do então senador.
O que leva estes dois senhores irem agora a praça pública reconhecer o que toda a esquerda sabe desde 89 e 91? Hummm... tem caroço nesse angu!!!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eles estão descontrolados

Quem não lembra da declaração: Cachorro é um ser humano como outro qualquer!!! Pois é, éssa pérola foi proferida pelo "imexível" Rogério Magri, ministro do trabalho em tempos equivocados, corruptos e irresponsáveis do Governo Collor. Na época isso causou indignação e merecida gozação, mas de alguns anos pra cá uma grande parte da população tem levado essa prática ao pé da letra.
É cachorro na padaria, na livraria, no shopping center, no supermercado, no elevador, no aeroporto ("viemos buscar os pais dela", fala pra mim uma senhora com um luluzinho no colo enquanto aguardava a chegada de sua irmã e cunhado)... cachorro com capa de chuva, com sapatinho, com lacinho, cachorro pintado de rosa e de azul. Não estou falando só de cachorrinhos pequeninos não, tenho visto cachorros de grande porte, cães de guarda, em situações ridículas.
Ontem enquanto fazia uma caminhada, medrosa que sou, ao avistar um cachorrinho meio suspeito (e feio, foi o schnauzer mais que feio que já vi na vida) já fui dando um jeito de sair da calçada para o meio fio. Pois o desgraçado deu uma carreira na minha direção, e como estava com uma coleira extensora quase conseguiu me abocanhar. Dei um grito e pulei e sua dona olhou pra mim completamente indignada e falou muito brava: CAAAALMA!!! Como calma se o seu animal quase me mordeu? Já vi crianças serem atacadas e os donos dos cahorros nem sequer se desculparem.
Gostar, criar e cuidar de cachorros não é problema, o companheirismo e a fidelidade canina sempre estiveram presente em toda a história do homem, o que me espanta, e me irrita, é a falta total de noção sobre o espaço que eles vem ocupando nas áreas comuns das cidades nos últimos tempos.
Não sei não, mas tenho a impressão que se o livro Revolução do Bichos fosse escrita hoje, George Orwell colocaria os cachorros na linha de frente da narrativa, e os porcos fariam parte da camada oprimida... E sinto dizer ao Waldick Soriano, mas sua canção tão famosa também está ficando um tanto anacrônica nesses tempos de soberania canina:
Eu não sou cachorro, não
Pra viver tão humilhado
Eu não sou cachorro, não
Para ser tão desprezado

domingo, 8 de novembro de 2009

Depende do referencial

O jornalista Mouzar Benedito conta uma história engraçada na revista Forum. Em 1970 ele chega para prestar vestibular no prédio da história da USP e vê uma movimentação imensa na frente de uma das salas. Um estudante esclarece o que está havendo: o pai do Chico Buarque está ali! O professor Sérgio Buarque de Holanda, um grande intelectual, historiador e autor de obras fundamentais sobre o Brasil havia se tornado o pai do Chico (imagino que sentisse muita honra nisso). Algumas décadas se passaram, e Chico Buarque continua sendo uma referência para muitas gerações. Mouzar conta então que nos idos de 90, acompanhando a cobertura do carnaval, uma repórter entra ao vivo direto de Salvador, ao lado do Chico Buarque:
- Estamos aqui com o sogro de Carlinhos Brown...

As vezes ao ler alguma notícia temos a exata noção da faixa etária de quem a escreveu. Essa semana, acompanhando a programação do Congresso do PCdoB entrei no link da simpática matéria sobre o show de Jorge Mautner na festa de encerramento do evento, e li o seguinte:
- Mautner é autor de Maracatu Atômico, música conhecida pela interpretacão de Chico Science.

Provavelmente muitos só conhecem o Gilberto Gil como ministro da cultura... Érico Veríssimo pode ser citado como o pai do Luis Fernando Veríssimo, a música Lady Madona pode ser um tributo dos Beatles a rainha pop e por aí vai. Pessoas que viram nome de rua... O tempo se encarrega de trazer novos significados. Algumas vezes traz o esquecimento, mas muitas outras, e isso é uma coisa muito legal traz a inovação, outras formas de expressão, novas interpretações e é isso que vai marcando a diferença entre as gerações...

Encerro aqui lembrando de um episódio vivido pelo fotógrafo Henri Cartier-Bresson (de quem sou admiradora-confessa). Estava ele num parque, com sua inseparável Laica portátil, fotografando quando ouve o comentário de um jovel casal que o observava:
- Olha só aquele senhor ali dando uma de Cartie-Bresson!!!