terça-feira, 26 de outubro de 2010

Em Fortaleza é assim!

Essa tarde Dilma passou pelo centro de Fortaleza e o que se viu foi muita gente na rua. Festa linda e emocionante. O Inácio fotografou de um ângulo, lá do alto de um carro de som, e eu de outro.

 O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem...
(A Banda, Chico Buarque)


Foto Inácio Carvalho
Foto Inácio Carvalho
 Amigos queridos e animados: Gabriel, Aninha, Fê, Neide, Samia,
Renatinha e Regiane. Foto Inácio Carvalho

E o nosso amor é vermelho!

sábado, 23 de outubro de 2010

Breves Diálogos XII

Numa loja de produtos naturais, uma mulher de uns 50 anos, acompanhada de sua mãe, está enlouquecida diante das novidades. Mãe olha essa quinoa, mãe veja esse arroz integral... até que:
- Mãããe, fariiiiinha de casca de banana verde!!!
- E pra que é isso?
- Aaaaahhhh... hummmmm.... diz que é pra um bocado de coisa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Momento pinóquio

Fazendo campanha* e cantando...

Pega na mentira
Erasmo Carlos • Roberto Carlos
Pega na mentira
Pega na mentira
Corta o rabo dela
Pisa em cima
Bate nela
Pega na mentira...

Pra que mentir
Paulinho da Viola
Pra que mentir
se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir?

Maior Abandonado
Cazuza • Frejat
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...

Sabes mentir
Angela Maria • Othon Russo
Sabes mentir
Hoje eu sei que tu sabes sentir
Um falso amor
Abrigaste em meu coração

Música para mentir
Esteban • Rodrigo Tavares
É só uma mentira
Que eu não quero mais
Preciso ser capaz
De crescer
Não tenho cura
Vivo essa loucura e o medo não quer me deixar viver

Cem mentiras
Oxil
Todo dia tenho novas mentiras em....
Minhas mãos
Nem sempre a mesma historia
Mais sempre o mesmo fim tudo em vão

Qual mentira vou acreditar?
Racionais Mc’s
Tem que saber mentir tem que saber lidar
em qual mentira vou acreditar?
a noite é assim mesmo então deixa rolar
vou escolher em qual mentira vou acreditar
tem que saber mentir tem que saber lidar
em qual mentira vou acreditar?

* Eu voto Dilma13 pro Brasil seguir mudando

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Breves Diárigos

Nanquim de Saul Steinberg

Algumas expressões são maravilhosas, lógica pura, eu vivo escutando coisas assim no meu dia a dia:

• Que falta de irresponsabilidade!
• Preciso distrair o dente
• Matar dois coelhos com uma caixa d’água
• Onde você vai toda lésbica e fagueira?
• Antena paranóica
• Deu pânico no sistema
• Refazer o sintético da sala
• Casas germinadas
• Coloca um asterístico

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Viajar é preciso...

Meus amigos, o sucesso de público e crítica da Marmitaria Fernanda e do Fernanda Bar é inegável, assim a Infe Corporation apresenta o seu mais novo empreendimento. Vejam os primeiros roteiros elaborados:

Veneza Americana
Geraldo Azevedo • Carlos Fernando
Iaiá mama
Maria minha mana
Mana a carta a preguiça
Um beijo à distância
Na palma da mão
O mapa do mundo
Eu vou por aí
Sou quase cigano
Veneza americana
Caliente si
De pé na lama
Desperta
Baila a cubana
Mui louca Lolita
É quem te ama
A ti Veneza pernambucana
Terreiro de maracatu
De Dona Santa
Dos mangues do Capibaribe
Das matas lá de Apipucos
A casa a rede o chá
Da palha de cana
Caiana
É quem te engana
A ti Veneza americana
Desperta
Baila a cubana

New york, new york
Frank Sinatra
Start spreading the news, I’m leaving today
I want to be a part of it - new york, new york
These vagabond shoes, are longing to stray
Right through the very heart of it - new york,
new york

Qualquer coisa
Caetano veloso
Esse papo já tá qualquer coisa
Você já tá pra lá de Marrakesh
Mexe qualquer coisa dentro doida
Já qualquer coisa doida dentro mexe
Não se avexe não, baião de dois
Deixe de manha, deixe de manha, pois
Sem essa aranha
Nem a sanha arranha o carro
Nem o carro arranha a Espanha
Meça,tamanha
Meça,tamanha
Esse papo seu já tá de manhã
Berro pelo aterro, pelo desterro
Berro por seu berro, pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe
Sou o seu bezerro gritando mamãe
Esse papo meu tá qualquer coisa
E você tá pra lá de Teerã
Qualquer coisa
Você já tá pra lá de Marrakesh

Taj Mahal

Jorge Ben Jor
Foi a mais linda
História de amor
Que me contaram
E agora eu vou contar
Do amor do príncipe
Shah-Jehan pela princesa
Mumtaz Mahal
Do amor do príncipe
Shah-Jehan pela princesa
Mumtaz Mahal...

Ponta dos Seixas
Cátia de França
Esse verde que chega a doer
das águas de Tambaú
se voce me deixa, eu me arretiro
não brigo com tigo
bem longe irei chorar, morar
na Ponta dos Seixas
Com o amanhecer
a Ponta do cabo branco
em ouro se torna
como posso esquecer
suas areias em prata
o cheiro do mar
o peixe comprado na hora
o barulho das ondas
e o riso da Dora lá atrás
um dia vou voltar

Deu Pra Ti

Kleiton e Kledir, Ramil
Deu pra ti
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre
Tchau!

Morena de Angola
Chico Buarque
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela

Madagascar
Olodum
Bantos, indonésios, árabes integram-se à cultura malgaxe
Raça varonil alastrando-se pelo Brasil
Sankara Vatolay faz deslumbrar toda nação é
Merinas, povos, tradição,
e os mazimbas foram vencidos pela invenção
Iêêê sakalavas oná ê, iááá sakalavas oná ah
Madagascar, ilha ilha do amor

Linha do Equador
Djavan • Caetano Veloso
Luz das estrelas
Laço do infinito
Gosto tanto dela assim
Rosa amarela
Voz de todo grito
Gosto tanto dela assim
Esse imenso, desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou, minha dor
Minha Linha do Equador
Esse imenso, desmedido amor
Vai além que seja o que for
Passa mais além do
Céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha música de preto
Gosto tanto dela assim
Essa desmesura de paixão
É loucura de coração
Minha Foz do Iguaçu
Pólo Sul, meu azul
Luz do sentimento nu

Touradas em Madri

Braguinha • Alberto Ribeiro
Eu fui às touradas em Madri
E quase não volto mais aqui
Pra ver Peri beijar Ceci.
Eu conheci uma espanhola
Natural da Catalunha;
Queria que eu tocasse castanhola
E pegasse touro à unha.
Caramba! Caracoles! Sou do samba,
Não me amoles.
Pro Brasil eu vou fugir!
Isto é conversa mole para boi dormir!

Back in Bahia
Gilberto Gil
Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui
Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim
Puxando o cabelo nervoso, querendo ouvir Celly Campelo pra não cair
Naquela fossa em que vi um camarada
meu de Portobello cair
Naquela falta de juízo que eu não
tinha nem uma razão pra curtir
Naquela ausência de calor, de cor, de sal,
de sol, de coração pra sentir
Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim

Tarde em Itapuã
Toquinho •Vinicius de Moraes
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã...

Aquarela Brasileira
Martinho da Vila • Silas de Oliveira
Vejam essa maravilha de cenário:
É um episódio relicário,
Que o artista, num sonho genial
Escolheu para este carnaval.
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela.
Caminhando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais.
No Pará, a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó.
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais.
Estava no Ceará, terra de Itapuã,
De Iracema e Tupã
E fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia...
Bahia de Castro Alves, do acarajé,
Das noites de magia do Candomblé.
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
Na arte, na beleza, arquitetura.
Feitiço de garoa pela serra!
São Paulo engrandece a nossa terra!
Do leste, por todo o Centro-Oeste,
Tudo é belo e tem lindo matiz.
No Rio dos sambas e batucadas,
Dos malandros e mulatas
De requebros febris.
Brasil, essas nossas verdes matas,
Cachoeiras e cascatas de colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emoldura em aquarela o meu Brasil.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Com o pé na estrada

Nesse feriado eu e o meu amor (http://carvalhorobles.blogspot.com/2010/10/um-ze-la-da-paraiba.html) pegamos nossa caranga e saimos curtindo por aí, percorremos quase 1.500 quilometros do Ceará à Paraíba. Fizemos algumas paradas inesquecíveis, encontramos amigos queridos e registramos de tudo um pouco. Começo mostrando alguns centros gastronômicos:

 Churrascaria em Fernando Pedroza, Rio Grande do Norte
 Barzinho em Pirangi, Rio Grande do Norte

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dinheiro na mão...

Hoje, andando pela cidade e vendo tantas pessoas nas filas nas casas lotéricas para fazer apostas no prêmio acumulado comecei a cantarolar esse samba maravilhoso. Segue uma versão acústica de Pecado Capital:

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Na boutique dela

A barata diz que tem
A Barata diz que tem sete saias de filó
É mentira da barata, ela tem é uma só
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !

Máscara negra
Zé Kéti • Pereira Matos
Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão
Foi bom te ver outra vez
Tá fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou
Que te beijou, meu amor
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval

El Surf
Mauro • Os “the” Longbrothers
Calça boca fina, camisa hangten
No bolso parafina e na cabeça adrenalina
É o surf, É o surf
É o surf, o esporte dos deuses
Que eu vou te falar

Os seus botões

Roberto Carlos • Erasmo Carlos
Os botões da blusa que voce usava
E meio confusa desabotoava
Iam pouco a pouco me deixando ver
No meio de tudo
Um pouco de voce
Nos lençois macios
Amantes se dão
Travesseiros soltos
Roupas pelo chão

Vapor barato
Jards Macalé • Wally Salomão
Oh! sim!
Eu estou tão cansado
Mas não prá dizer
Que eu não acredito
Mais em você...
Com minhas calças vermelhas
Meu casaco de general
Cheio de anéis...

Ai, se eles me pegam agora
Chico Buarque
Ai, se mamãe me pega agora
De anágua e combinação
Será que ela me leva embora
Ou não
Será que vai ficar sentida
Será que vai me dar razão
Chorar sua vida vivida
Em vão
Será que faz mil caras feias
Será que vai passar carão
Será que calça as minhas meias
E sai deslizando pelo salão
Eu quero que mamãe me veja
Pintando a boca em coração
Será que vai morrer de inveja ou não

A felicidade bate a sua porta
As Frenéticas
Alô, alô, alôô!
Diretamente da Rádio Nacional,
temos o prazer de apresentar:
“A Felicidade Bate à Sua Porta!”
O Trem da Alegria saiu agora.
Partiu nesse instante
da Rádio Nacional,
a gare principal da Central.
Carregado de ioiôs e colares, cocares,
miçangas e tangas e sambas para o nosso Carnaval.

Malandragem
Cássia Eller • Cazuza • Frejat
Quem sabe eu ainda
Sou uma garotinha
Esperando o ônibus
Da escola, sozinha...
Cansada com minhas
Meias três quartos
Rezando baixo
Pelos cantos
Por ser uma menina má...

O xote das meninas
Luiz Gonzaga • Zé Dantas
Mandacaru
Quando fulora na seca
É o siná que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É siná que o amor
Já chegou no coração...
Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir chitão...
Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

Eu te amo
Tom Jobim • Chico Buarque
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
[...]
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Camisa listrada
Assis Valente
Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão

Marinheiro só
Caetano Veloso
Eu não sou daqui
Marinheiro só
Eu não tenho amor
Marinheiro só
Eu sou da bahia
Marinheiro só
De são salvador
Marinheiro só
Lá vem, lá vem
Marinheiro só
Como ele vem faceiro
Marinheiro só
Todo de branco
Marinheiro só
Com o seu bonezinho
Marinheiro só

De chapéu de sol aberto
Capiba
De chapéu de sol aberto
Pelas ruas eu vou
A multidão me acompanha
Eu vou
Eu vou e venho pra onde, não sei
Só sei que carrego alegria pra dar e vender

Tarde em Itapuã
Vinicius de Moraes • Toquinho
Um velho calção de banho
Um dia prá vadiar
O mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar...

Breves Diálogos XI

No sitio do meu pai em Valinhos, Cauã, garotinho de 3 anos senta para conversar com meu filho:
- Joao, vc conhece o Téo?
- Não Cauã, não conheço o Téo
- Joao, vc conhece o Téo?
- Não conheço Cauã
Cauã não desiste:
- Joao, vc conhece o Téo?
- Não conheço
- Joao, vc conhece o Téo?
- Nao
 [...] Longa pausa
- Joao, vc conhece o Téo?
João já sem saber o que fazer resolveu mudar a resposta:
- Conheço!
- Então, outro dia na escola eu e o Téo...

E assim finalmente o garotinho pode contar sua história!

domingo, 3 de outubro de 2010

Brasil democrático


Eu aplaudo a maioridade política do nosso país!

E aqui reproduzo um texto que faz uma boa análise sobre o momento político-econômico-social e a atuação da mídia no processo eleitoral.

Dois pesos...
02 de outubro de 2010 | 0h 00

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.