quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sertão em verso

Fotos de Tiago Santana
Lamento Sertanejo
Dominguinhos • Gilberto Gil
Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.
Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.

Sobradinho
Sá e Guarabyra
O homem chega já desfaz a natureza
Tira gente põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia, vai subir bem devagar
E passo a passo, vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar
Dói no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
O sertão vai virar mar
Dói no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Adeus Remanso, Casanova, Sento Sé
Adeus Pilão Arcado veio o rio te engolir
Debaixo d’água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira, o Gaiola vai subir
Vai ter barragem no Salto do Sobradinho
O povo vai se embora com medo de se afogar
O sertão vai virar mar
Dói no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Vai virar mar
Dói no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Remanso, Casanova, Sento Sé
Pilão Arcado, Sobradinho, adeus, adeus
Remanso, Casanova, Sento Sé
Sobradinho, adeus, adeus
Remanso, Casanova, Sento Sé
Sobradinho, adeus, adeus

O Sertão te espera
Dominguinhos
Vem
o sertão
Tá chamando a gente
O sol ora frio, ora quente
O vento pra nos refrescar
Vem
O sertão nos espera sorrindo
É um pai que castiga sentindo
Vontade de nos embalar
Vem
Sertanejo sofrido e sem sorte
E mesmo na hora da morte
Coragem não se vê faltar
Vem
Que nesse sertão de bravura
Não uma há só criatura
Para dar sem nada fazer
Vem
Que esse chão é bem firme e forte
É nosso sertão, nossa terra
Bendito sertão do meu norte

Luar do Sertão
Catullo da Paixão Cearense • João Pernambuco
Ah que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
A gente fria
Desta terra sem poesia
Não se importa com esta lua
Nem faz caso do luar
Enquanto a onça
Lá na verde da capoeira
Leva uma hora inteira
Vendo a lua derivar
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Ai quem me dera
Que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra
E ormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a surubina
Chora a sua viuvez
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão
Não há oh gente oh não
Luar como este do sertão

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